O Rio de Janeiro é um dos maiores acervos de arquitetura do mundo. Tanto no que se refere à arquitetura histórica quanto recente. Ai estão alguns edifícios verticais do centro da cidade muito caros à história da arquitetura brasileira.

EDIFÍCIO “A NOITE”

Praça Mauá. Arquiteto Joseph Gire. 1928.

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Seu nome se deve a um dos mais importantes jornais do Rio da época. Abrigou também, nos últimos pavimentos,  a Rádio Nacional, o mais importante meio de comunicação do país nos anos 1940 e 50. O cálculo estrutural foi assinado por Emílio Baumgarten. Durante muito tempo foi o edifício de estrutura de concreto armado mais alto da América latina.

EDIFÍCIO SEDE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA (ABI)

Rua Araújo Porto Alegre, 71. Projeto Marcelo e Milton Roberto. 1936.

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Cronologicamente, foi o primeiro edifício modernista do Rio de Janeiro. Sem o aparato e as complicações que cercaram o projeto do MES, este edifício aplica conscientemente, mas com um certa rigidez, os princípios corbusianos. Os pilotis não puderam ser completamente liberados, e a utilização dos brises (pela primeira vez no Brasil) fica prejudicada, por se tratar de brises fixos, o que provoca um estranho fechamento na fachada.

EDIFÍCIO DO MES (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE)

Rua da Imprensa, 16. Projeto Lúcio Costa, Jorge Moreira, Affonso Eduardo Reydi, Carlos Leão, Ernani Vasconcelos e Oscar Niemeyer. 1936.

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Sem dúvida o mais importante e emblemático edifício do centro do Rio de Janeiro, no que se refere à arquitetura. Nasceu assim: Edifício do MES, depois mudou para Edifício do MEC (Ministério da Educação e Cultura). Hoje é Palácio Gustavo Capanema, em homenagem a seu idealizador, ministro da Educação e Saúde Pública do governo de Getúlio Vargas. Contou, na  sua concepção, com a colaboração direta de Le Corbusier. A saga de sua criação e construção estão bem documentadas, desde o polêmico concurso até a criação da equipe de projeto e sua tumultuada existência. Nele aparecem com uma exuberância jamais vista os princípios de Le Corbusier: a implantação dos blocos no centro do terreno e  a elevação sob pilotis, liberando o nível térreo para uma grande praça;  a utilização de brises-soleil, desta vez, diferentemente do edifício da ABI, brises horizontais e móveis, que não enclausuram o edifício; a estrutura independente etc. Aparece também pela primeira vez na arquitetura do Movimento Moderno a decoração de paredes, tradicional de nossa arquitetura colonial, nos belos painéis de Portinari. Um marco da arquitetura brasileira e mundial.

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Painéis de Portinari no MES. Imagens

BANCO BOAVISTA

Praça Pio X, 118. Projeto Oscar Niemeyer. 1946.

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Um legítimo Niemeyer do período pré-Pampulha engastado no perfil das edificações proposto pelo Plano Agache. Fachada sul toda envidraçada, fachada oeste com brises móveis, o edifício ainda ostenta muita dignidade e delicadeza, e se destaca dos vizinhos. No pavimento térreo, uma bela parede ondulada de tijolos de vidro, que qualifica o espaço interior e um painel de mosaico de pastilhas de Paulo Werneck.

EDIFÍCIO SEGURADORAS

Rua Senador Dantas, 74. Projeto MMM Roberto, 1949.

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Edifício da lavra dos irmãos Roberto, atualmente muito descaracterizado. Seu ponto principal é a curva sinuosa que marca a esquina, com painéis de pastilhas de Paulo Werneck, artista plástico responsável pela introdução dos mosaicos de pastilhas cerâmicas na arquitetura brasileira e constante colaborador dos Roberto. Os brises de madeira montados na estrutura de concreto também foram retirados.

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Painel de pastilhas cerâmicas de Paulo Werneck. Imagem

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Detalhe da estrutura de concreto sem os brises de madeira.

EDIFÍCIO MARQUÊS DE HERVAL

Avenida Rio Branco, 185. Projeto MMM Roberto, 1953.

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Um dos mais originais edifícios comerciais dos irmãos Roberto, e um dos que mais acusa os graves problemas enfrentados pela arquitetura do Movimento Moderno no Rio de Janeiro no seu nascimento – o descompasso entre a indústria da construção civil de então e as idéias dos arquitetos.  A poética deste edifício era toda calcada no movimento das fachadas. O efeito gerado pela súbita mudança de direção na parede frontal e as inclinações verticais provocava um efeito de instabilidade que legou ao edifício o apelido de “Tem nego bebo aí” [1]. O edifício hoje está completamente descaracterizado, tendo perdido, a partir de 1965, os seus brises móveis, que o tornavam único, e em seu lugar ostentam terríveis aparelhos de ar condicionado.

Fachada anterior com os brises e vista atual.

Fachada anterior com os brises e vista atual.

Detalhe original dos brises móveis.

Detalhe original dos brises móveis.

EDIFÍCIO SEDE DO JOCKEY CLUB DO BRASIL

Avenida Presidente Antônio Carlos, 501. Projeto de Lúcio Costa. 1956.

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Um edifício onde aparece o traço do mestre. Bem de acordo com o contexto da época no uso das cortinas de vidro, tem, entretanto, detalhes que o diferenciam, como as “janelas de púlpito”, tradicionais do barroco, limitando o grande painel frontal. Lateralmente, um pano inteiro de janelas de alumínio de dobradiças, que nunca foram utilizadas em edifícios comerciais. Aquele afetos à linguagem clássica diriam “janelas de abrir para fora à francesa”. Foi o primeira utilização de alumínio anodizado em preto. Disse-me o Sr. Roger Pierre, consultor da Fichet, expert em esquadrias de alumínio, que garantira a Lúcio Costa dez anos de bom desempenho quanto à anodização, isto quando já haviam se passado quase vinte anos da execução das ditas esquadrias, que hoje mostram sinais de desgaste.

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Fachada de esquadrias “à francesa”.

Detalhe das cortinas de alumínio e vidro anodizadas em preto e natural.

Detalhe das cortinas de alumínio e vidro anodizadas em preto e natural.

BANCO ALIANÇA

Praça Pio X, 99. Projeto Lúcio Costa. 1956.

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Muito discreto e contido, este edifício busca no uso das colméias e azulejos, uma citação da arquitetura colonial brasileira, bem característica da arquitetura de Lúcio Costa. No coroamento, a linguagem modernista.

EDIFÍCIO AVENIDA CENTRAL

Avenida Rio Branco 156. Projeto Henrique Mindlin. 1958-61

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Projetado para ocupar o lugar do emblemático Hotel Avenida e da não menos emblemática Galeria Cruzeiro, foi o primeiro edifício construído em estrutura metálica do Rio de Janeiro. Nasceu da iniciativa da empresária Regine Feigl, que encarregou o escritório Henrique Mindlin e Associados de seu projeto. esteticamente, representou uma mudança na orientação dos arquitetos do Rio de Janeiro, até então marcados pela influência de Le Corbusier. Mindlin inaugura aqui a poética de Mies van der Rohe, dos grandes arranha-céus de aço e vidro. Mais diretamente, o edifício segue o modelo da Lever House de Nova Iorque, da lâmina sobre placa de embasamento, projetado pelo arquiteto Gordon Bunshaft, do escritório Skidmore, Owings e Merrill (SOM).

Hotel Avenida e Lever House

Hotel Avenida e Lever House

BANCO DO ESTADO DA GUANABARA

Rua Nilo Peçanha, 175. Projeto Henrique Mindlin. 1963-5

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Construído para ser sede do Banco do Estado da Guanabara (BEG), passou a ser Banerj a partir de 1975, com a fusão da Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro. O banco foi liquidado em 2007 e o edifício hoje abriga secretarias do Governo do Estado. O edifício, contemporâneo do vizinho Avenida Central, apresenta uma poética completamente diferente, com grandes maciços verticais e vigas horizontais de concreto aparente, também uma tendência da época, inspirada  no brutalismo corbusiano.

EDIFÍCIO SEDE DA PETROBRÁS

Avenida República do Chile, 65. Arquitetos Roberto Luiz Gandolfi, José Sanchotene, Abraão Aniz Assad, Luiz Forte Netto, Vicente de Castro Neto e José Maria Gandolfi. 1969.

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Construído durante os anos 1970, em plena vigência do chamado Milagre Brasileiro, nos tempos mais violentos da ditadura militar, este edifício muito se distancia da poética carioca. Foi um produto da chamada “Escola de Curitiba”. É que com a fundação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná,  em 1962, muitos arquitetos de formação paulista, liderados por Luiz Forte Netto, foram para aquela cidade. Assim como a Escola Carioca está ligada à poética purista de Le Corbusier e a Escola Paulista ao brutalismo corbusiano e ao Novo Brutalismo, a  Escola de Curitiba traz como novidade um neste edifício um hiperracionalismo construtivista e uma poética volumétrica da mega-escultura abstrata, assimilando novas técnicas projetuais e construtivas.

O edifício em construção, ostentando a sua lógica estrutural marcante.

O edifício em construção, ostentando a sua lógica estrutural marcante.

EDIFÍCIO SEDE DO BNDES (BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL)

Avenida Chile, 100. Projeto Alfred Willer, Ariel Stelle, José Ramalho Jr., José Sanchotene, Leonardo Oba, Oscar Mueller e Rubens Sanchotene. 1974.

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Projetado e construído também durante os “anos de chumbo” da ditadura militar, este edifício formava com o Edifício da Petrobrás e o do BNH um conjunto de edifícios públicos federais aos quais a população do Rio de Janeiro legou o apelido de “Triângulo das Bermudas” associando todo o mistério desta área do Oceano Pacífico à opacidade da gestão pública do período. O edifício, em sua concepção, é um misto de Johnson Wax e Seagram Building. Do primeiro tirou a idéia do edifício com tronco central e lajes em balanço; do segundo tirou a idéia minimalista do revestimento com cortina de vidro. O edifício, também da lavra da Escola de Curitiba, trás muitas inovações construtivas, sendo a principal delas a construção do núcleo de concreto com formas deslizantes para posteriormente serem penduradas as lajes em concreto protendido. Também as esquadrias com múltiplas articulações e persiana embutida eram uma inovação.

Edifício Johnson Wax de Frank Lloyd Wright (1936-9. Corte e vista) e Edifício Seagram (1954-8), de Mies van der Rohe.

Edifício Johnson Wax de Frank Lloyd Wright (1936-9. Corte e vista) e Edifício Seagram (1954-8), de Mies van der Rohe.

CENTRO CÂNDIDO MENDES

Rua da Assembléia, 10. Projeto Harry Cole. 1977.

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Marcante presença na praça XV, cujo contexto de edifícios coloniais foi profundamente alterado, o que provocou grande polêmica na época, este edifício inaugura no Rio uma nova geração dos arranha-céus , a pele de vidro, onde os montantes não são visíveis externamente.

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EDIFÍCIO SEDE DO CITYBANK

Rua da Assembléia, 100. Largo da Carioca. Projeto Pontual Associados, 1979-82.

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O apelido de “marmitão”, como foi conhecido nos seus primeiros anos, não traem sua principal característica e ponto de interesse, o revestimento em painéis de alumínio, uma poética então inovadora que se apresentava como alternativa às famigeradas cortinas de vidro, condenadas como vilãs da grande crise energética que o mundo vivia, devido aos sucessivos choques do petróleo na década de 1970. A poética de painelização foi trazida para a grande arquitetura, no início dos anos 1970 pelo arquiteto Richard Meier. O Edifício do Citybank ainda utilizou painéis de alumínio como único material. Poucos anos depois, os fornecedores deste material lançariam o ACM (aluminium composite material), o que vulgarizaria o uso da painelização em alumínio.

EDIFÍCIO RIO BRANCO 1

Avenida Rio Branco, 1. Arquiteto Edison Musa. 1988

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Contruído no lugar da Casa Mauá, curioso prédio em estilo Neogótico, um shopping-center avant-la-letre, o RB 1, como é chamado é um centro empresarial atual, contando com os mais modernos recursos dos chamados “edifícios inteligentes”. Seu característica principal, no que diz respeito à arquitetura, é sua linguagem mural, que assimila um tendência da época de seu projeto de um trabalho decorativo e caprichoso das fachadas, utilizando-se de elementos figurativos históricos, como a tríade clássica, a simetria, os arcos monumentais etc. em lugar da desgastada cortina de vidro.

Vista da Praça Mauá em 1915, com a Casa Mauá à esquerda. Este edifício foi demolido nos anos 1980 para dar lugar ao Edifício Rio Branco 1.

Vista da Praça Mauá em 1915, com a Casa Mauá à esquerda. Este edifício foi demolido nos anos 1980 para dar lugar ao Edifício Rio Branco 1.

TORRE ALMIRANTE

Avenida Almirante Barroso, 81. Projeto Pontual Associados e  Robert Stern Architects. 2004.

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Construído no local do Edifício Andorinha, vitimado por um incêndio em 1986, a Torre Almirante é um dos edifícios mais sofisticados do Rio de Janeiro, desde as primeiras etapas do projeto. É marcante a tecnologia utilizada nas esquadrias, com vidros de última geração, de desempenho termo-acústico e lumínico de alta eficiência. Foi resultado de um empreendimento da Empresa Hines Brasil, empresa privada internacional de incorporação imobiliária, cuja sede internacional é em Huston. Esta empresa contratou o escritório Robert Stern Associates para produzir o design do edifício. A partir dai, o escritório carioca Pontual Associados fez o desenvolvimento e detalhamento do projeto.

Detalhe da fachada, refletindo um outro edifício emblemático do Rio, o Edifício Mayapan, apelidado de Bolo de Noiva.

Detalhe da fachada, refletindo um outro edifício emblemático do Rio, o Edifício Mayapan, apelidado de Bolo de Noiva.

Fonte: Blog Coisas da Arquitetura